O que é o ICB?

A origem nos anos de chumbo

O Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro foi fundado em 1969, em pleno governo militar e sob a égide do Ato Institucional no. 5, o instrumento legal coercitivo que sustentava a ditadura. Naquela época, a palavra de ordem era homogeneizar para melhor controlar. Seguindo essa orientação, a reforma universitária de 1968 já havia indicado que o ciclo básico das profissões da Saúde fosse separado do ciclo profissional, e unificado em institutos de ciências biomédicas ou similares. Praticamente todas as universidades federais, então, criaram os seus ICBs, reunindo os professores de anatomia, histologia, fisiologia, farmacologia etc, sob a mesma unidade acadêmica.

O nosso ICB não foi exceção. O primeiro diretor, homem liberal de espírito generoso, foi Lauro Sollero, então professor catedrático (depois professor titular) de Farmacologia. Sollero implantou o ICB ainda na Praia Vermelha, onde funcionou até 1972, ano da mudança para o campus do Fundão. A criação do ICB teve um lado positivo, pois permitiu maior proximidade com o Instituto de Biofísica, fundado muito antes (1945) por Carlos Chagas Filho, o que garantiu uma gradativa, porém sustentada, introdução da pesquisa científica nos departamentos. O lado negativo foi a separação, que se acentuou, entre a pesquisa básica, a pesquisa clínica, e a prática das profissões de Saúde. 

 

A estrutura departamental

A reforma universitária de 1968 havia também abolido a cátedra vitalícia, antiga reivindicação dos professores mais progressistas e do movimento estudantil. As cátedras foram substituídas pelos departamentos, dotados de colegiados próprios mais democráticos. E os catedráticos – liderança única em cada cátedra - foram substituídos pelos professores titulares. Caiu o domínio senhorial dos catedráticos, e tornou-se possível que os departamentos tivessem mais de um professor titular.

O ICB, nessa nova realidade, reuniu os departamentos de anatomia, histologia e embriologia, biofísica e fisiologia, bioquímica, parasitologia e farmacologia. O departamento de biofísica e fisiologia ficou sob o encargo do Instituto de Biofísica, cujos professores eram representados na congregação do ICB. Nos anos 1980 o departamento de parasitologia foi também incorporado ao Instituto de Biofísica. E recentemente, em 2004, o departamento de bioquímica separou-se do ICB e se transformou no novo Instituto de Bioquímica Médica.

Esse processo de segmentação não foi negativo, pois evitou um provável gigantismo do ICB que talvez o tornasse uma unidade de difícil administração, desenvolvimento que ocorreu em outros ICBs no país. Além disso, corria em paralelo uma forte tendência das ciências biológicas e biomédicas em direção à multi e à transdisciplinaridade. Novas disciplinas científicas apareceram, e a interação horizontal se tornou imperativa na fronteira do conhecimento, obscurecendo os limites dos departamentos. Estava maduro o cenário para a superação da estrutura departamental.

 

Em busca de uma nova estrutura

 

Em 2005, o então diretor Prof. Adalberto Vieyra fomentou uma intensa discussão interna no ICB, com vistas a reformar a estrutura departamental, que havia se tornado envelhecida e incapaz de lidar com a dinâmica da ciência contemporânea. Com grande participação dos professores, alunos e servidores, esse rico processo de debate resultou em uma nova proposta de Regimento, aprovado em plebiscito, homologado pela Congregação e, em dezembro de 2007, terminativamente aprovado pelo Conselho Universitário.

O novo Regimento trouxe mudanças fundamentais: em lugar dos departamentos, foram criados 5 Programas de Pesquisa, 2 de Pós-Graduação (já existentes anteriormente), 4 de Graduação e de 1 de Extensão. Os programas são avaliados quinquenalmente por comissões externas ad-hoc, e sua continuidade ou interrupção é decidida pela Congregação. Os professores podem fazer parte de um ou mais programas, bem como postular à Congregação a qualquer tempo a sua transferência de programa. Os professores, além disso, podem solicitar duplo vínculo intrauniversitário, e passar a atuar no ICB e também em outra unidade da UFRJ. O objetivo é fomentar a integração básico-clínica, mencionada adiante. Os programas se reúnem em Câmaras, e a Congregação ficou mais enxuta, assumindo o papel de grande colegiado decisório do ICB.

A expectativa de todos é que a nova estrutura facilite a integração interna entre professores, alunos e servidores, fomentando novas linhas de pesquisa, opções inovadoras no ensino básico para a área da Saúde, crescimento dos cursos de pós-graduação e uma forte atividade de extensão, voltada especialmente para a formação de professores do ensino básico.

 

Em busca de uma nova missão

 

Com a nova estrutura, o ICB voltou-se para analisar a sua missão. A quê se destinaria um instituto de ciências biomédicas? A discussão levou a propor como missão do instituto, e sua meta para as próximas décadas, investir na integração básico-clínica e na pesquisa translacional. Avaliando que essa é uma tendência internacional, o ICB se propõe a estimular a atuação de seus professores e alunos num amplo espectro de linhas de pesquisa, que vai desde os aspectos mais fundamentais, básicos e descompromissados da Biologia, até a pesquisa clínica orientada para as doenças prevalentes do século XXI, e alternativas terapêuticas para saná-las ou preveni-las.

Com base nisso, o ICB buscou a parceria da Faculdade de Medicina e do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, e formulou com essas duas unidades um projeto ambicioso de mudança da grande maioria de seus 34 laboratórios (quadro 1 – laboratórios do ICB) para o prédio do hospital. Além dos laboratórios atuais, novos laboratórios serão criados, para novos professores concursados e professores de outras instituições interessados em transferir-se para o ICB. O projeto ganhou logo a adesão do Ministério da Saúde, que se propôs a financiá-lo, e caminha para a concretização em 2010. No prédio do HU, o ICB ocupará uma área total de cerca de 5.000 m2no 6º e 7º andares, onde uma equipe de arquitetura especializada em biossegurança planejou laboratórios de pesquisa de concepção moderna para alojar as mais avançadas linhas de pesquisa – sobre biologia do desenvolvimento, neurociência básica, oncobiologia, biologia celular, terapias celulares e bioengenharia, desenvolvimento de fármacos, biologia e farmacologia celular e molecular, e outras.  Serão instaladas no HU também várias unidades multiusuárias abertas à participação de professores e pesquisadores das diversas unidades da UFRJ, destacando-se o Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias, iniciativa financiada pelo Ministério da Saúde, e a Unidade de Microscopia Confocal, financiada pela Capes para os programas de pós-graduação em Ciências Morfológicas, Clínica Médica, Farmacologia e Química Medicinal, e Anatomia Patológica.

A mudança para o prédio do HU suscitou uma outra discussão de grande importância – a criação do Núcleo de Ensino Experimental, cujo projeto está em elaboração. A concepção do NEEx é a de reorientar o ensino de graduação e a extensão para atividades experimentais, proporcionando aos alunos laboratórios de ensino instalados nas áreas dos laboratórios a serem transferidos. Nessas áreas serão implementados espaços interativos para alunos e professores do ensino básico, e laboratórios de graduação para a execução de aulas práticas e demonstrativas de caráter experimental.

Retrato do ICB atual

 

O ICB realiza censos anuais de suas atividades científicas e de ensino. O último Censo, referente a 2008, constatou que os professores do ICB publicaram cerca de 600 artigos científicos em revistas indexadas nos últimos 6 anos e cerca de 20 capítulos de livros. Aproximadamente 53% dos docentes apresentaram mais de 8 artigos no período, cujos fatores de impacto superaram em muito (89%) o nível de 1,35 admitido pela Capes para as ciências biológicas. O índice h médio do corpo docente do ICB é de 5,56, sendo que cerca de 20% dos professores possui índice h igual ou superior a 10. Mais de 80% dos docentes obtiveram recursos públicos e privados superiores a 100 mil reais nos últimos 6 anos.

A atividade científica do ICB é alavancada fortemente por seus dois Programas de Pós-Graduação: Ciências Morfológicas (nota 6 da Capes), e Farmacologia e Química Medicinal (nota 4). Ambos oferecem titulação de Mestrado e Doutorado. Em conjunto, os dois programas têm um total de 43 orientadores internos credenciados e 142 alunos, sendo 59 de Mestrado e 83 de Doutorado. Entre janeiro de 2006 e dezembro de 2008, 161 teses e dissertações foram defendidas, sendo 110 de Mestrado e 51 de Doutorado. Um forte esforço está sendo realizado atualmente para elevar as notas desses cursos na próxima avaliação geral que a Capes realizará.

No âmbito do ensino de graduação, o ICB é o principal responsável pelas disciplinas básicas das carreiras profissionais: Medicina, Enfermagem, Odontologia, Nutrição e várias outras. Ministra, junto com o Instituto de Biofísica e o Instituto de Bioquímica Médica, 221 disciplinas do ciclo básico de 17 cursos profissionais da área da Saúde, atendendo a quase 3.700 alunos inscritos a cada semestre. Além disso, o ICB oferece o curso de Ciências Biológicas - Modalidade Médica, atualmente com 206 alunos cursando regularmente. O número de vagas oferecidas vem crescendo desde a criação do curso em 1994, quando eram oferecidas apenas 30 vagas em uma entrada única anual, com grande procura no vestibular (relação candidato/vaga de 11,5:1 em 2008). No ano de 2009, o ICB implementou a entrada semestral, dobrando assim o número de matrículas no curso de 42 para 84, atendendo ao Programa de Reestruturação da Universidade (REUNI), lançado pelo governo federal. O curso dá ao aluno forte embasamento teórico e científico nas ciências da saúde, inserindo-o precocemente nos laboratórios de pesquisa da UFRJ e de outras instituições de ensino e pesquisa do Brasil. Ao término do curso, aproximadamente 70% dos egressos opta por ingressar na pós-graduação, aprimorando sua formação para uma futura atuação como pesquisador ou professor universitário. Atendendo às tendências do mercado de trabalho no Brasil e no mundo, o ICB desenvolve uma reforma curricular este ano que visa expandir os horizontes da formação, abrindo vertentes de biotecnologia, análises clínicas e biociências forenses.

 

O ICB e a sociedade brasileira

Partindo do princípio de que é necessário estreitar os laços da Universidade pública com a sociedade que a financia, o ICB realiza várias atividades de extensão voltadas para a comunidade: cursos de verão em Farmacologia, programas de formação complementar de professores do ensino básico tipo “mão-na-massa” (Mergulho no Corpo), e um intensivo programa de atividades nas escolas públicas da 4ª. Coordenação Regional de Educação do município do Rio de Janeiro (Ciência sobre Rodas), e conta com a colaboração de professores, alunos e profissionais de comunicação.

Finalmente, o ICB mantém uma revista eletrônica de divulgação científica (Bio), que entra no ar quinzenalmente na página de abertura do sítio institucional do ICB, e conta com a colaboração de professores, alunos e profissionais de comunicação.

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